Trena de fita, também chamada de trena manual, e a trena laser são instrumentos indispensáveis para construção, decoração de interiores, projetos de artesanato e muito mais. Imagine encontrar o móvel certo para uma sala, projetar um armário de cozinha ou encontrar o local ideal para colocar espelho sem uma trena à mão. Seria quase impossível que as coisas se encaixassem e coubessem onde você imaginou.

Tenho uma trena Hultafors sueca há vários anos e ela continua simplesmente perfeita. Não faço ideia de quando vou precisar de uma nova. Mas é interessante observar como mesmo um instrumento tão antigo pode apresentar tantas inovações e melhorias de qualidade e recursos.

Nesse artigo do nosso blog, você vai conhecer um pouco da história da trena de fita e da trena laser, os tipos de trenas, algumas marcas disponíveis no mercado e o que observar para escolher a melhor trena para a sua tarefa.

Aproveite esse momento emocionante de escolher uma nova ferramenta para aprender um pouco mais sobre ela e ter certeza de que não vai se arrepender de sua decisão.

A história da trena de fita ou trena manual

As trenas, em inglês tape measure ou fita de medir, são ferramentas de medição muito antigas. Os primeiros registros do uso de fitas com marcações para medir comprimentos são do Império Romano, entre 27 aC até 476 dC.

Os alfaiates franceses utilizavam fitas de papel marcadas para tirar medidas dos clientes e cortar corretamente o tecido, mas elas eram diferentes para cada cliente.  Aliás, a palavra para alfaiate em francês, tailleur, significa aquele que corta.

A primeira fita de medir com marcações padronizadas passou a ser utilizada por volta de 1820. Ela permitiu comparar as medidas de diferentes clientes e permitiu a confecção de roupas padronizadas, como uma camisa básica, que servia para diversos clientes, sem ser sob medida. Uma grande revolução na confecção de roupas.

A evolução da trena de fita

A primeira patente de uma trena de fita que era retrátil por um sistema de mola, foi criada na Inglaterra nos anos de 1820. Seu problema era o preço, muito alto para os artesãos da época.

Em 1864, uma patente de um modelo bem mais barato foi emitida nos Estados Unidos para Willian Bangs. Apenas 4 anos depois, em 1868, Alvin Fellows recebeu a patente de uma trena retrátil que tinha um sistema de trava e era acondicionada em uma caixa de metal, o que a tornou fácil de carregar em uma caixa de ferramentas.

O problema da trenas de Bangs e Fellows era que a fita era de pano, para ser flexível e fácil de enrolar. E isso dificultava algumas medições.

Já em 1922, Hiran Farrand patenteou a trena com fita metálica côncava. Farrand resolveu o problema das trenas anteriores. A fita metálica era flexível suficiente para ser enrolada mas, quando esticada, ganhava resistência estrutural devido à sua concavidade, facilitando as medições. Podia ser mantida estável, segura apenas pela caixa, com até 6 pés (cerca de 1,8 metro).

Em conjunto com Willian Wentworth Broun, Farrand passou a produzir em massa suas trenas. Mais tarde, venderia seu produto para a Stanley Works, que viria a se tornar a gigante Stanley Black and Decker.

A trena côncava de Farrand acabou-se tornando o padrão do mercado das trenas de fita de bolso até hoje.

A partir de 1977, começaram a surgir trenas digitais, que incorporam mostradores digitais.

 

Trena de Ultrassom

Em 1794, Lazzaro Spallanzani descobriu que os morcegos utilizam o eco de sons de alta frequência para orientação espacial.

No início do século XX, surgiram os primeiros sonares para detecção de submarinos e icebergs.

Atualmente, há diversos modelos de trenas que utilizam ultrassom para realizar medidas. Esses equipamento são relativamente baratos e têm alcance de até 15 ou 20 metros.

Mas elas precisam de um anteparo relativamente grande e plano para refletir o som emitido, o que nem sempre é prático.

Por ser um instrumento eletrônico, memoriza medições e realiza cálculos simples de área e volume.

Trena laser

O laser é um tipo de radiação luminosa ideal para medições de distâncias. Já em 1962, o MIT, nos Estados Unidos, conseguiu a primeira medição bem sucedida de distância da Terra para a Lua através da reflexão de pulsos laser em sua superfície. Entre 1961 e 1972, o Programa Apollo instalou espelhos na Lua especificamente para melhorar a reflexão de lasers emitidos a partir da Terra. Em 1972, medidores de distância a laser foram utilizados em tanques de guerra soviéticos.

O primeiro medidor de distância a laser de uso comercial foi fabricado pela suíça Leica Geosystems, em 1993. Em condições ideais, tinha alcance de cerca de 30 metros, com precisão de 3 mm.

Os medidores atuais têm precisão de 3 mm a 1 mm e alcance de 20 a 250 metros, dependendo do modelo.

O que observar em uma trena de fita ou trena manual

À primeira vista, as trenas de fita são parecidas, mas há muitas características que as diferenciam. Eis o que é necessário observar para escolher a sua.

Comprimento

A primeira coisa a se verificar é se o comprimento da fita está de acordo com o tipo de uso que fará da ferramenta.

A maioria dos vidraceiros e serralheiros preferem trenas de 5 ou 8 metros. Muitos marceneiros preferem trenas de 3 metros.

Escolher uma trena muito pequena pode ser frustrante quando não puder fazer uma medida. Mas uma trena muito grande pode ser desconfortável e pesada para medir peças menores.

Marcações

Unidade de medida

É muito importante observar as marcações da trena para não se arrepender depois. No Brasil, praticamente não se usa medidas em polegadas. Se sua atividade não exige medir em polegadas, melhor optar por uma trena que tenha marcações apenas em centímetros, para evitar confusões e erros de medida.

Continuidade

As marcações ainda poder ser contínuas ou não. Muitas trenas são numeradas de 10 em 10 centímetros. Ou seja, depois do 10, volta ao 1, 2, 3…

Marcações contínuas sempre dão a distância completa. Por exemplo, depois do 120, vem o 121, o 122 etc.

Medidas contínuas facilitam a leitura e evitam erros de medição. 

Cores

As cores das marcações são importantes para a fácil identificação. A maioria das trenas usa marcações pretas e vermelhas sobre fundo amarelo, produzindo um bom contraste. Mas há modelos com fundo branco e até modelos com marcações em branco sobre fundo preto.

Tamanho dos números

Nem sempre estamos observando a medida de perto. Em algumas medidas, é mais simples apoiar a extremidade da fita no piso e fazer a leitura no alto, por exemplo. Em casos assim, o tamanho dos números pode fazer uma grande diferença.

Marcação de um lado ou dos dois lados da fita

A maioria das trenas tem marcações apenas de um lado da fita. Em geral, isso é o suficiente. Mas, em alguns casos, pode ser interessante ter marcações atrás da fita, para fazer a leitura sem malabarismos.

Pintura anti-reflexo

Em alguns casos, a luz ambiente pode atrapalhar a leitura devido a reflexos. Fitas com pintura anti-reflexo evitam esse tipo de problema, tornando a leitura mais rápida, precisa e confortável.

Fita

Largura e espessura

Fitas mais largas e resistentes se sustentam com um comprimento maior sem se dobrarem. Isso pode fazer uma grande diferença quando se faz medições sem ajuda.

Com boas trenas, é possível medir até 3 metros ou mais na horizontal sem ajuda de outra pessoa. As medidas verticais também ficam mais fáceis, sendo possível medir até 4 ou 5 metros sem que a fita se dobre.

Terminação

A terminação da fita é um elemento importante. Os fabricantes costumam utilizar diferentes formas e materiais na terminação para se destacar perante a concorrência.

O primeiro fator a se notar é a fixação da terminação à fita. Em geral, é feita com 2 a 5 rebites. A robustez dessa fixação é importante para a vida útil da trena, pois é um ponto comum de fragilidade.

A terminação também costuma ter uma folga. E isso não é um defeito da ferramenta. Essa folga deve ser exatamente igual à espessura da terminação. A folga compensa a diferença que a espessura da terminação faria em medidas internas ou externas.

Há ainda terminações imantadas, que auxiliam em medidas de estruturas metálicas. Terminações emborrachadas para que a fita não se solte durante a medição. Com furações para fixar em pregos ou saliências. Transparentes para facilitar medidas pequenas, de até 2 cm. 

Caixa da trena

Ergonomia

As caixas da trena de fita podem ter desenhos muito diferentes. Esses desenhos influem na ergonomia. Ou seja, na forma como a trena se ajusta à mão do usuário. Uma boa ergonomia dá mais segurança e conforto e reduz o cansaço. Isso pode fazer muita diferença quando é necessário fazer várias medidas em sequência. Também ajuda quando se usa uma trena mais longa, de 8 metros, por exemplo.

Uma caixa com um desenho melhor se ajusta à mão. Superfícies emborrachadas dão segurança. Desenhos mais compactos facilitam o uso. São fatores que devem ser levados em conta no momento da compra.

Resistência

Uma caixa mais resistente (assim como uma mola melhor) vão aumentar significativamente a durabilidade da sua trena. Afinal, não é raro que trenas sofram quedas e outros impactos. 

Marcação do tamanho da caixa

Algumas trenas têm marcações do tamanho da caixa ou algum dispositivo retrátil que facilitam realizar medidas internas. Isso é muito útil para medir vãos internos sem ter que dobrar a fita, diminuindo a precisão da medida.

Clipe de engate rápido

Um dos problemas das trenas é o clipe para prendê-la na calça ou cinto quando não estão em uso. Essas presilhas costumam ser fortes e difíceis de prender à roupa. Com isso, é comum que a trena seja esquecida por não ter sido guardada após o uso.

O clipe de engate rápido é preso à roupa, facilitando muito o processo de retirar a trena, usar e guardar.

Marcador

Algumas trenas têm marcadores embaixo da própria caixa, no local exato da medida. Com esses marcadores, não é necessário uma caneta ou lápis para marcar o material, evitando imprecisões e agilizando o trabalho.

Trava

Há diversos tipos de trava para controlar a parada e a velocidade de retorno da fita.

Há travas automáticas, que mantêm a fita parada até que se pressione para liberar. Travas de dois estágios, que evitam o escorregamento e a eventual alteração da medida. Espaços sob a caixa que permitem controlar a velocidade de enrolamento da fita com o prórpio dedo.

Um bom controle da velocidade de enrolamento da fita permite um retorno suave, aumentando a vida útil da ferramenta. Travas de dois estágios são importantes para manter a medida firme mesmo que seja necessário movimentar a trena.

Precisão

As boas trenas apresentam uma boa precisão na medida. A precisão indica qual o erro máximo de uma medida.

No caso das trenas, a precisão depende do tamanho total da medida. Medidas maiores podem apresentar erros proporcionalmente maiores.

Na Europa, existe uma classificação em Classes para instrumentos de medida de comprimento. Cada instrumento deve ser enquadrado em uma dessas classes.

As boas trenas recebem classificação de Classe II ou Classe I, de acordo com sua precisão, conforme a tabela abaixo:

 

PRECISÃO DA MEDIDA EM MILÍMETROS
MEDIDA TOTAL	CLASSE I	CLASSE II	CLASSE III
2 metros	± 0,30	± 0,70	± 1,40
3 metros	± 0,40	± 0,90	± 1,80
5 metros	± 0,60	± 1,30	± 2,60
8 metros	± 0,90	± 1,90	± 3,80

 

A classe III é usada para outros instrumentos de medidas, como o Metro Articulado, por exemplo.

Trena laser ou trena de fita?

As trenas laser e de fita não são substitutas uma da outra. Cada uma é mais interessante para diferentes situações.

1. Medindo mais de 8 metros, a trena laser é imbatível. Mas há trenas de fita longa, mais úteis acima de 100 metros.

Medindo até 8 metros, trenas de fita podem ser superiores em praticidade e precisão.

1. As melhores trenas laser têm precisão de ±1 mm. Os modelos mais básicos, ±3 mm.

A tabela acima mostra que trenas Classe II são mais precisas que trenas laser básicas medindo até 8 metros e que trenas laser sofisticadas medindo até 5 metros.

Trenas Classe I são mais precisas que ótimas trenas laser medindo até 8 metros.

1. É difícil manter a fita de uma trena esticada sem apoio por mais de 3 metros. Problema que não ocorre com a trena laser.
2. Os problemas da trena laser são a luz ambiente e longas distâncias, que dificultam a medição. Trenas de laser verde são melhores.
3. Trenas laser ficam sem baterias.
4. Trenas laser memorizam medidas e realizam cálculos. Algumas se conectam com aplicativos, transmitindo informações. Assim, não se perdem anotações.
5. Em média, trenas de fita são mais baratas que trenas laser..
6. Trenas de fita costumam ser mais resistentes a quedas e impactos.
7. Pode ser difícil realizar pequenas medidas com a trena laser.

 

Tabela comparativa entre trena de fita e trena laser

 

Vantagens de cada trena
Trena de fita	Trena laser
classe II: mais precisas que as trenas laser em medidas de até 5 metros	dispensam ajudante mesmo para medidas grandes
classe I: mais precisas que as trenas laser em medidas de até 8 metros	mantêm a precisão para medidas grandes
funcionam bem em qualquer condição de luz	podem ter alcance de 20 a 250 metros
Sem baterias	Memoriza medidas
São mais baratas	Calcula áreas, volumes, somas e diferenças
Mais resistentes a quedas e impactos	Modelos sofisticados se comunicam com dispositivos mobile
Fazem medidas pequenas

Marcas

As melhores trenas de fita do mundo são as fabricadas nos Estados Unidos, Europa e Japão.

Nos Estados Unidos, o mercado é dominado pela Stanley, um dos primeiros fabricantes do mundo, e por sua subsidiária DeWalt. Suas trenas são de ótima qualidade, muito robustas, mas a maioria tem marcações em medidas imperiais (pés e polegadas). Não apresentam classificação de tolerância, como as trenas européias e japonesas.

No Japão, as marcas mais famosas são KDS, Tajima e Shinwa.  Dessas, apenas a KDS é encontrada no Brasil. É uma trena muito popular entre os vidraceiros, marceneiros e serralheiros. Tem medidas em centímetros, numeração contínua, Classe II e fita muito resistente com marcação dos dois lados.

Na Europa, os melhores fabricantes são a sueca Hultafors e a austríaca SOLA. A Hultafors é mais conhecida no Brasil pelos seus lendários metros articulados.

A Hultafors fabrica as Talmeters de 2, 3 e 6 metros. São trenas com marcações dos dois lados da fita, Classe II, muito robustas, com riscador por baixo da caixa e dispositivo para medidas internas, clipe de engate rápido.

A SOLA é a única trena Classe 1 a desembarcar no Brasil. Suas fitas têm tratamento anti-reflexo, dispositivos para medidas internas, terminações emborrachadas, clipe de engate rápido. Vêm conquistando mercado rapidamente.

Escolhendo sua trena

A primeira decisão importante é escolher entre uma trena de fita ou uma trena laser. Lembrando que, para um mesmo padrão de qualidade, a trena laser sempre será mais cara que a trena de fita.

É claro que uma trena de fita excelente vai sair mais caro que uma trena laser de baixa qualidade ou de menor precisão. Então, é importante levar em conta seu orçamento e o que você espera do instrumento em termos de precisão e praticidade.

Trena de fita ou trena manual

Infelizmente, a maioria das trenas que chegam ao Brasil são quase todas de baixo custo. Quase todas são chinesas, mesmo as de marcas tradicionais como Stanley, Starrett, Lufkin ou Irwin. E quando se fala de ferramentas, sempre temos o que pagamos. Baixo custo e qualidade inferior tendem a caminhar juntos.

A maioria das trenas no Brasil têm marcações de polegadas junto com as marcações em centímetros, muitas não têm marcações contínuas, e sequer indicam a precisão das medidas. Isso sem falar na durabilidade, que pode ser muito pequena.

Por isso, se você gosta de contar com uma ferramenta de confiança, que fornecerá medidas precisas por muitos anos, vale a pena investir em ferramentas mais caras e de qualidade superior, como as citadas anteriormente.

Trena Laser

Se você precisa fazer medidas grandes ou precisa ser muito rápido nas medidas menores, ainda que com menor precisão, a trena laser pode ser a ideal para o seu caso.  É comum que se utilize trenas laser para tirar medidas preliminares a título de orçamento e, uma vez fechado o serviço, faça-se uma nova medição utilizando uma boa trena de fita.

É claro que trenas laser de primeira linha são ferramentas fantásticas, mas, nesse caso, você deve estar preparado para desembolsar um bom dinheiro.

Conclusão

Apesar de o tamanho do orçamento ser importante para a escolha de uma ferramenta, há muitos fatores que devem ser levados em consideração para a escolha de um modelo. Afinal, a ferramenta que não atende às suas necessidades é a que sai mais caro, pois consome recursos e não entrega o que se espera dela.

Por outro lado, se você pode trabalhar bem com um modelo mais simples, não há porque gastar mais que o necessário para adquirir o modelo mais moderno e potente.

É importante ter em mente que a ferramenta de boa qualidade oferece mais por mais tempo. Custa mais no momento da aquisição, mas é mais barata no longo prazo.

Agora, basta escolher o melhor modelo para o seu trabalho e mãos à obra.