Vidro Temperado: Um pouco de história.

O vidro temperado é conhecido há alguns séculos. Se você fosse um nobre na Inglaterra de meados do século XVII, talvez presenciasse uma demonstração das mágicas Gotas do Príncipe Rupert em uma das festas do Rei Charles II.

A música da pequena orquestra é interrompida e um aparato é trazido para o centro do salão. Com um bastão, é retirada de um forno uma pequena quantidade de uma massa incandescente.

Vidro derretido a mais de 1200 graus celsius. Ele escorre da ponta do bastão e é derrubado em um recipiente com água fria. O contato faz com que a água ferva instantaneamente. Um chiado toma conta do lugar.

O resultado é uma gota de vidro endurecido. Um bulbo quase esférico com uma cauda longa, quase invisível de tão fina.

Um desafio é lançado: quem é capaz de quebrá-la atingindo apenas o bulbo? A ferramenta? Um martelo enorme!

A gota é colocada sobre uma bigorna, aguardando voluntários. Ora, onde está o desafio, afinal? É apenas uma gota de vidro.

Um após o outro, os homens mais fortes e orgulhosos se rendem, exaustos e envergonhados, àquela gota indestrutível. As pessoas não acreditam nos próprios olhos.

Mas, de repente, alguém segura a ponta da delicada cauda e a dobra sem esforço, com a ponta dos dedos. Ao quebrá-la, ouve-se um estalido. A peça inteira, incluindo a poderosa esfera, explode em milhões de fragmentos minúsculos.

Gota de Rupert: a cabeça é muito resistente e a cauda é seu ponto fraco

Espanto! Risos e aplausos ecoam no salão.

A Gota do Príncipe Rupert, também chamada de Lágrima Holandesa, nada mais é que uma gota de vidro temperado. Seu processo de produção é muito primitivo em vista dos modernos processos de temperamento, mas, na essência, é o mesmo vidro temperado que usamos hoje em portas de lojas e boxes de banheiro.

De onde vem a resistência do vidro temperado?

Mas, o que é o vidro temperado, afinal? Como é possível uma gota de vidro ser tão resistente? Qual o segredo?

Imagine que você entrou em um vagão vazio de trem ou metrô. Uma freada brusca ou um empurrão podem derrubá-lo facilmente, a não ser que se segure firmemente nas barras de segurança do vagão.

Mas, a cada estação, entra mais e mais gente. As pessoas que estão na plataforma já estão esperando a oportunidade de entrar em um trem há vários minutos e o tempo está passando.

Elas não querem se atrasar para o trabalho. Então, antes de fechar a porta, sempre há pessoas empurrando e se espremendo. Dez estações depois, você tem dificuldade para ver as horas no relógio de pulso.

E agora? Difícil derrubá-lo, não é mesmo? A situação não é nada confortável, mas, do ponto de vista da estabilidade, você está mais seguro. É isso que acontece com as moléculas internas do vidro temperado.

A superfície do vidro esfria primeiro e se encolhe, pressionando fortemente as moléculas internas. Quando o vidro todo esfria e endurece, essas pressões ficam armazenadas de forma permanente.

Essa compactação torna o material muito resistente à pressão e ao impacto. Resistente quanto? Uma placa de vidro temperado de segurança suporta pressões de, pelo menos, 100 megapascal. Algo como o peso de uma tonelada sobre um pequeno quadrado de 1cm por 1cm. Impressionante, não?

Por outro lado, o  vidro temperado traz, em sua fonte de força, sua maior fragilidade. As tensões internas que multiplicam sua resistência fazem com que ele todo se estilhace em pequenos fragmentos quando sua estrutura é abalada.

Como é feito o vidro temperado?

Atualmente, o vidro temperado é feito a partir do vidro plano, que é cortado, furado e lapidado em equipamentos de grande precisão para o encaixe das ferragens previstas em projeto. Já com a forma definitiva, o vidro é colocado em um forno, deitado sobre roletes.

E aquecido até pouco mais de 600 graus celsius e rapidamente resfriado por jatos de ar frio.

O processo é muito bem controlado. Isso faz com que o vidro possa atender normas internacionais e ser considerado vidro de segurança. A resistência, o comportamento ao se romper, o tamanho máximo e mínimo dos estilhaços, são características que devem seguir as normas.

Agora é fácil perceber o porquê de não ser possível cortar ou furar o vidro após a têmpera. O alívio de suas tensões internas faria com que ele se despedaçasse.

Enfim, o que o vidro temperado tem de diferente?

Resumindo, as características principais do vidro temperado são:

• Possui grande resistência mecânica.
• Pode ser utilizado de forma estrutural, sem o uso de esquadrias de alumínio ou ferro para sustentá-lo.
• Pode ser fixado com ferragens relativamente pequenas, como suportes, dobradiças e fechaduras.
• Pode ser utilizado em fachadas, portas, janelas e box de banheiro com pouca interferência visual pelo tamanho reduzido das ferragens.
• Bem mais difícil de quebrar que o vidro comum.
• Quando quebrado, gera estilhaços semelhantes a pequenos cubos que, comparando com os estilhaços longos e pontiagudos criados na quebra do vidro comum, têm um baixo potencial para causar ferimentos.
• Com a colagem de uma película plástica especial, torna-se ainda mais seguro. Em caso de quebra, os fragmentos ficam presos à película.

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